Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem, o reino de Davi, nosso pai! Hosana, nas maiores alturas!
E, quando entrou em Jerusalém, no templo, tendo observado tudo, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze.” (Mc 11.1-11)
Era normal na Antigüidade e até mesmo em eras mais recentes, a entrada triunfal de um rei, de um governador ou de um general em uma terra conquistada, com o propósito de demonstrar força, demarcar aquela região como sendo sua e, ainda, humilhar o povo conquistado. A história contemporânea registrou um fato dessa natureza, quando, na II Guerra Mundial, o exército nazista desfilou solenemente na mais importante avenida de Paris, marcando, de forma indelével, o domínio alemão sobre a França.
A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, nas proximidades da Páscoa, foi, em sua vida, seu único triunfo visível; até então, Ele tinha recusado qualquer tentativa de ser glorificado, mas naquele domingo, Ele não só aceitou, como provocou o acontecimento, cumprindo ao pé da letra a profecia do Antigo Testamento: “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta.” (Zc. 9:9). No entanto, de modo diferente dos reis guerreiros, Jesus entra em Jerusalém sobre um jumentinho e não em um belo cavalo, entra de forma humilde, como um simples homem e não como um general vitorioso. Mesmo assim, Ele enfrenta o poder judaico, entrando de forma gloriosa em sua capital, invertendo os valores de então, pautados na religiosidade hipócrita, na injustiça e na força, em especial, contra os mais necessitados.
Ele mostra claramente que queria ser reconhecido e aclamado como o Messias, Rei e Salvador de Israel; e o texto do Evangelho registra os traços messiânicos: os ramos (cf. Sl 118.27), o canto de Hosana (que significa: Oh! Salva-nos, Senhor), a aclamação de Jesus como Filho de Davi e Rei de Israel. Assim, a história de Israel chega ao seu fim, uma vez que o seu sentido era o de anunciar e preparar o Reino de Deus, a vinda do Messias. Esse é o dia em que isto se cumpre, pois eis que o Rei entra em sua cidade santa e nele todas as profecias e toda a espera de Israel encontram seu término: ele inaugura seu Reino.
Mas, qual é o sentido disto para nós, para a Igreja?
Primeiramente, nós proclamamos que o Cristo é nosso Rei e nosso Senhor. Com certeza, lembramo-nos constantemente que Jesus é o nosso Salvador; mas, com freqüência, esquecemos que Ele é o nosso Senhor, que nós somos cidadãos de seu Reino, e que nós prometemos colocar nossa fidelidade a esse Reino acima de qualquer outra. O que ele espera de nós, é um real acolhimento do Reino que ele nos trouxe.
Em segundo lugar, o Reino inaugurado em Jerusalém é um Reino universal, abraçando toda a humanidade e toda a criação. E aquele singelo evento, aquele breve momento de triunfo terrestre do Cristo adquire uma significação eterna. Ele introduz a realidade do eterno Reino de Deus em nossa história, revelando-se ao mundo e julgando e transformando a história humana. Dessa forma, devemos confessar que o seu Reino é o único objetivo de nossa vida, a única coisa que dá um sentido a ela. Devemos, também, entregar tudo de somos e que temos a Cristo, uma vez que nada pode ser subtraído ao único e exclusivo Mestre e que nenhum domínio de nossa existência escapa de seu império e de sua ação redentora.
Finalmente, devemos entender que enquanto cidadãos desse Reino, somos representantes dele no mundo; dessa forma, proclamamos a grande responsabilidade da Igreja – a embaixada do Reino de Deus – com relação à história da humanidade e afirmamos sua missão universal. O mundo vive como se esse acontecimento decisivo jamais tivesse ocorrido, como se Deus não tivesse morrido na cruz e como se, nele, o homem não tivesse ressuscitado dentre os mortos. Mas nós, Igreja, cremos, na chegada desse Reino e devemos mostrar e testemunhar ao mundo que a cidadania desse Reino está aberta para quem, com fé, venha se arrepender de seus pecados e aceite Jesus Cristo, o Rei Messias, como seu Senhor e Salvador.
Soli Deo Gloria
Nelson Calmon