sábado, 26 de dezembro de 2009

FÉ x PÓS-MODERNIDADE

Esse texto é o resumo de uma aula, ministrada por mim, na Igreja Presbiteriana Independente Central de Brasília, em 2004 e na Igreja Presbiteriana do Grajaú, em 2009. 
Fé X Pós-modernidade
A Era da Modernidade e o Iluminismo:
O século XVIII é também chamado de século das luzes. A origem de todo esse movimento de nome iluminismo começou na França. Esse termo iluminismo está relacionado com esclarecimento, porque para os iluministas, os homens da Idade Média viviam nas “trevas da ignorância”. Além disso, eles consideravam o homem como o produto do meio no qual vive, da sociedade e da educação.
Na era anterior, a educação estava sob o controle da igreja. Isto não era bem visto pelos novos pensadores, os iluministas, pois para eles a igreja tornava a sociedade ignorante, fanática e submissa.
Aquele século mudou a maneira de pensar. O objetivo desses filósofos era a busca da felicidade. Eles eram contra a injustiça, intolerância religiosa e a concentração de privilégios nas mãos de poucos.
Para os iluministas a razão era importante para os estudos dos fenômenos naturais e sociais. De certa forma, eles eram Deístas, ou seja, acreditavam em Deus. Entretanto essa divindade agiria indiretamente nos homens, através das leis naturais – nada mais que isso. Assim, não tardou que o Iluminismo provocasse impacto dentro da Igreja, especialmente na área de estudos bíblicos e da interpretação das Escrituras. Teólogos, influenciados pelo humanismo racionalista do Iluminismo, adotaram diversas posturas em sua interpretação, dentre as quais:
1. Rejeição do sobrenatural e da revelação; e
2. Leitura da Bíblia controlada pela razão.

Surgimento das filosofias pós-modernistas:
A segunda metade do século XX assistiu a um processo sem precedentes de mudanças na história do pensamento e da técnica. Ao lado da aceleração avassaladora nas tecnologias de comunicação, de artes, de materiais e de genética, ocorreram mudanças paradigmáticas no modo de se pensar a sociedade e suas instituições.
De modo geral, as críticas apontam para as raízes da maioria dos conceitos sobre o Homem e seus aspectos, constituídas no século XV e consolidadas no século XVIII. A Modernidade surgida nesse período é criticada em seus pilares fundamentais, como a crença na Verdade, alcançável pela Razão, e na linearidade histórica rumo ao progresso. Para substituir esses conceitos, são propostos novos valores, menos fechados e dogmáticos que serviriam de base para o período que se tenta anunciar - no pensamento, na ciência e na tecnologia - de superação da Modernidade. Seria, então, o primeiro período histórico a já nascer batizado: a pós-modernidade.
Este fenômeno cultural e social tornou-se notável, após a queda do Muro de Berlin, em 1989 e com o insucesso dos modelos econômicos, dos organismos internacionais e da ciência em resolver os problemas mais agudos do planeta. A seguir, veremos os aspectos que mais influenciam o cotidiano e a Igreja de Cristo.

Principais aspectos da pós-modernidade:
1. Tolerância - complacência para com as ações de outros quanto à política, sexo, religião, raça, gênero, valores morais e atitudes pessoais, a ponto de nunca se externar sua própria opinião de forma a contradizer o ponto de vista dos outros. É aqui que entra o conceito de “politicamente correto”. Significa aquilo que é aceitável como correto na sociedade onde se vive.
A tolerância pode afetar a interpretação da Bíblia levando as pessoas a interpretá-la a partir do conceito de “politicamente correto”. Evita-se qualquer leitura, interpretação ou posicionamento que venha a ser ofensivo à sociedade ou comunidade a que se ministra. Por exemplo, textos que anunciam o pecado da homossexualidade. (1Sm 2: 27-29)

2. Inclusivismo - resultado do multiculturalismo do mundo pós-moderno. Significa repartir o poder com as minorias anteriormente oprimidas pelas estruturas de poder, como negros, gays, mulheres e
raças minoritárias, excluindo qualquer juízo de valor em termos morais, religiosos e de justiça. Em algumas denominações históricas, verifica-se a liberdade de ordenação de ministros gays. (1Rs 11:3-5)

3. Relativismo - rejeita o conceito defendido pela modernidade de que existam verdades absolutas e fixas. Toda verdade é relativa e depende do contexto social e cultural em que as pessoas vivem. Cada um percebe a verdade de sua própria forma. Não há “verdade”, mas sim “verdades” que não se contradizem, mas se complementam. Isso inclui verdades religiosas. Conceitos como “Deus” são totalmente relativos. A única “inverdade” que existe é alguém insistir em que existe verdade fixa e absoluta! Essa característica vai de encontro com a Verdade que reside em Cristo e em sua Palavra. O relativismo acaba por minar a credibilidade em qualquer forma de interpretação que se proponha como a correta, além de individualizar a verdade. Cada pessoa tem sua verdade e ninguém pode alegar que a sua é superior à dos outros. Portanto, ninguém pode ter a pretensão de converter outros à sua fé. (Jo 14:6)

4. Pluralismo - defende o relacionamento de pessoas com ideologias diferentes, sem que uma tenha de sujeitar suas convicções ao domínio da outra. O pluralismo religioso, por sua vez, prega o abandono da “arrogância” teológica do cristianismo, nega que exista verdade religiosa absoluta, e exalta a experiência religiosa individual como critério último para cada um.
O pluralismo religioso defende uma nova teoria missiológica, onde não mais se prega a necessidade de conversão de outras religiões ao cristianismo, e sim a cooperação entre todas as religiões, naquilo que têm em comum. O pressuposto é que o cristianismo não é o único caminho para Deus, embora seja o melhor, e que Deus está agindo salvadoramente no âmbito de outras religiões, como as religiões orientais. (2Co 6:14)

5. Pragmatismo: Hedonismo e Imediatismo – as idéias humanas eram verdadeiras se funcionassem ou fossem úteis para resolver problemas (imediatismo). As pessoas passam a orientar as suas decisões em função daquilo que mais satisfaz as suas necessidades ou lhes dá prazer (hedonismo). Religião dos resultados. Os crentes passam a ser clientes da igreja e consumidores das bênçãos do sagrado. (1Pe 3:15)

A Igreja na onda da pós-modernidade:
Assistimos na igreja da pós-modernidade desânimo, cansaço e perplexidade, haja vista a influência das filosofias atuais no seu seio e o “esquecimento” da verdadeira razão de nossa fé. Algumas causas:
1. o cristianismo fundamentalista com seus cronogramas apocalípticos falidos e sua teologia deturpada e irracional;
2. o cristianismo social com sua Teologia da Libertação derrubada com o Muro de Berlin; e
3. o cristianismo neo-pentecostal e sua Teologia da Prosperidade com crescimento itinerante.

Conclusão:
A pós-modernidade apresenta à Igreja problemas e oportunidades imensas. Para superar os problemas e aproveitar as oportunidades, precisamos do discernimento do Espírito e da compaixão de Cristo. Por isso, o primeiro desafio da Igreja na pós-modernidade é ser fiel à Palavra que deve ser pregada e ensinada mesmo que seja politicamente incorreta. Nossa postura deve ser sim, biblicamente correta.
Para tal a igreja deve ser sensível ao mundo, aos seus problemas e necessidades. Não devemos nos fechar numa casca, mas nos abrir ao mundo. É ter a Bíblia numa mão e o jornal na outra.
Como povo de sacerdotes de Deus, discernindo a vontade de Deus e sendo solidários com os pecadores, atuaremos no mundo como testemunhas de Jesus Cristo, pregando com a Palavra e com o testemunho de nossas vidas, para a honra de nosso Deus.

Soli Deo Gloria
Nelson Calmon

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